Estudo aponta um declínio de 70% no desflorestamento da Amazônia, que representa 3,2 bilhões de toneladas de CO2 a menos na atmosfera
Um estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira
mostrou que, de 2004 a 2013, o Brasil reduziu em 70% o desflorestamento
da Floresta Amazônica e emitiu 3,2 bilhões de toneladas de CO2 a menos
na atmosfera. Nesse período, 86.000 quilômetros quadrados da floresta
foram poupados do desmatamento, uma área que corresponde a 14,3 milhões
de campos de futebol, sem que a produção agrícola do país fosse
reduzida.
Na pesquisa, dezessete pesquisadores brasileiros e americanos
concluíram que a mudança foi impulsionada por uma combinação de
políticas públicas, rejeição do mercado ao desflorestamento e um aumento
de áreas protegidas. Os autores acreditam que o sucesso brasileiro
mostra o potencial dos países tropicais de produzirem mais alimentos sem
destruir florestas, mas destacam que esse avanço pode ter pouca duração
sem mais incentivos para os fazendeiros.
"Os ganhos são significativos, mas frágeis. Nós estamos atingindo o limite do que pode ser obtido com medidas punitivas. À medida em que a demanda mundial por soja e carne começar a crescer novamente, vai ser necessária uma nova abordagem para manter a devastação contida na Amazônia", afirma Daniel Nepstad, diretor do Earth Innovation Institute e principal autor do estudo.
"Os ganhos são significativos, mas frágeis. Nós estamos atingindo o limite do que pode ser obtido com medidas punitivas. À medida em que a demanda mundial por soja e carne começar a crescer novamente, vai ser necessária uma nova abordagem para manter a devastação contida na Amazônia", afirma Daniel Nepstad, diretor do Earth Innovation Institute e principal autor do estudo.
Entre 1999 e 2004, a Amazônia foi intensamente pressionada pela
expansão em larga-escada da produção de soja. Florestas foram derrubadas
em quantidades alarmantes, apesar de o Código Florestal determinar que
os agricultores deveriam manter 80% de suas propriedades com floresta
nativa. De 2005 a 2007, a margem de lucro da soja caiu, possibilitando
uma mudança. Após muita negociação, os principais compradores de soja
produzida na Amazônia decidiram apoiar um acordo de fazer negócios
apenas com produtores cujas terras haviam sido desmatadas antes de 2006,
o que incentivou os fazendeiros a usar as terras que já possuíam de
forma mais produtiva.
Em 2008, uma nova medida fez com que os fazendeiros pudessem ser banidos do crédito agrícola se suas terras tivessem alto desflorestamento. Paralelamente, a área da Amazônia destinada à preservação foi ampliada. "Os produtores melhoraram suas práticas, e isso tem a ver com essa exigência dos compradores, com a melhora do monitoramento e com a união da parte econômica", disse ao site de VEJA Ane Alencar, diretora do programa Cenários para a Amazônia do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e integrante da equipe que realizou o estudo.
Em 2008, uma nova medida fez com que os fazendeiros pudessem ser banidos do crédito agrícola se suas terras tivessem alto desflorestamento. Paralelamente, a área da Amazônia destinada à preservação foi ampliada. "Os produtores melhoraram suas práticas, e isso tem a ver com essa exigência dos compradores, com a melhora do monitoramento e com a união da parte econômica", disse ao site de VEJA Ane Alencar, diretora do programa Cenários para a Amazônia do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e integrante da equipe que realizou o estudo.
Desde o início dessa pesquisa, em 2004, o ano de 2013 foi o primeiro
que apresentou aumento na derrubada de floresta, que foi de 28%. Os
pesquisadores, porém, ainda não sabem se isso representa uma tendência
de elevação ou apenas a retomada da estabilidade: com 4.570 quilômetros
quadrados desmatados, 2012 tinha sido o ano com a menor perda florestal.
"Apesar do aumento, 2013 ainda foi o ano com a segunda menor taxa de
desmatamento de todo o período de monitoramento, com 5.840 quilômetros
quadrados", explica Ane. Em 2004, antes da redução, o desmatamento
chegou a quase 28.000 quilômetros quadrados.
Incentivos — Os pesquisadores, no entanto, começam a
se preocupar com a manutenção desse padrão. "Se continuarmos apenas com
as punições e medidas de restrição econômicas, chega um momento em que,
se não houver incentivos positivos, principalmente para aqueles que
estão fazendo a coisa certa, a gente pode reverter todo esse ganho", diz
Ane. A pesquisadora sugere que os produtores considerados exemplares
tenham acesso a créditos com juros mais baixos ou vantagens na venda de
seus produtos, por exemplo.
A redução da destruição da Amazônia é importante não apenas para o
Brasil, mas para o resto do mundo: o maior potencial para a expansão
agrícola hoje é encontrado no Brasil e em outros países tropicais, e a
perda de floresta tropical é responsável por 15% das emissões de dióxido
de carbono global. "O grande desafio da atualidade é produzir mais
alimentos, para mais pessoas, em áreas menores de terra, e ao mesmo
tempo reverter a perda de florestas tropicais", explica Nepstad. "O
Brasil tem mostrado ao mundo que isso pode ser feito”, completa. "Agora,
temos de mostrar que a diminuição drástica do desmatamento que temos
alcançado pode se tornar permanente – e que é realmente possível manter
80% da floresta em pé para gerações futuras”, afirma Ane.
Mudança — Para Ane, a grande redução no desmatamento que ocorreu de 2004 para cá, o que pode explicar a pesquisa divulgada ontem, que
coloca o Brasil como o país que mais perde cobertura florestal por ano
no mundo. O estudo, realizado pela ONU, leva em consideração dados de
1990 a 2010, enquanto o monitoramento atual usa dados de 2004 a 2013.
Fonte: Veja.abril.com